Impactos dos Incêndios Florestais na Fauna Brasileira
Os incêndios florestais que têm afetado o Brasil desde o início do inverno têm causado uma devastação significativa na fauna e na flora do país, especialmente no cerrado. Voluntários da região de Ribeirão Preto (SP) estão trabalhando arduamente no resgate e recuperação dos animais selvagens que foram prejudicados por essas tragédias.
Cenário de Destruição
A estiagem de 2024 é considerada a pior já registrada na história do Brasil. Apenas em agosto, foram queimados 5,65 milhões de hectares, correspondendo a 49% da área total queimada no ano. No estado de São Paulo, 86% das queimadas ocorreram nesse período. Ribeirão Preto, Sertãozinho e Pitangueiras são algumas das regiões mais afetadas, de acordo com dados do Monitor do Fogo, do MapBiomas.
A diretora de Fauna Silvestre do Estado de São Paulo, Isabella Saraiva, descreve a situação como catastrófica, destacando que os animais que sobreviveram agora enfrentam a falta de abrigo e comida:
- “Você não vai ter abrigo, não vai ter comida até que essa vegetação e esse ambiente voltem ao normal.”
- “Esse impacto vai continuar até que ocorra a recuperação.”
Resgate e Reabilitação dos Animais
Desde o início dos incêndios, o governo de São Paulo estabeleceu um gabinete de crise. Os 26 Centros de Triagem e Recuperação de Animais Silvestres (Cetras) do estado receberam 95 animais, dos quais apenas 41 sobreviveram, e poucos poderão ser devolvidos à natureza. Em Ribeirão Preto, 26 animais foram resgatados, mas apenas 9 deles aguardam condições adequadas para retornar ao habitat natural.
A situação pegou de surpresa os profissionais envolvidos. Alexandre Gouvêa, zootecnista do Cetras de Ribeirão Preto, afirmou que essa é uma situação inédita em seus 30 anos de experiência:
- “Nada se compara com o que aconteceu em 2024.”
Desafios no Resgate
A dificuldade de acesso às áreas afetadas e a persistência do fogo têm dificultado o trabalho de resgate. Muitos animais não sobrevivem por ficarem sem locais de escape e abrigo. A médica veterinária Maria Ângela Panelli, que frequentemente atua em situações de queimadas, observou que, devido à intensidade dos incêndios, muitos animais não foram salvos:
- “As queimadas foram tão intensas que muitos animais morreram antes mesmo de serem socorridos.”
Voluntários e Assistência
Durante os períodos críticos, clínicas veterinárias e profissionais têm se oferecido como voluntários, mas a demanda por atendimento foi menor do que o esperado. Camila Faria, uma das veterinárias, relatou que somente 12 animais foram atendidos, em contrapartida à expectativa de um número maior:
- “A maioria dos animais não conseguiu escapar.”
- “A situação se naturalizou e houve menos divulgação sobre as queimadas e seus impactos.”
Reabilitação em Cetras
A reabilitação dos animais resgatados é um processo demorado. Os animais são registrados e passam por exames para determinar as intervenções necessárias. Contudo, a secretária Isabella Saraiva enfatiza que, no momento, a soltura não é viável devido à perda de habitats:
- “É preciso ter todos esses cuidados ao reintegrar o animal ao ambiente certo.”
Burocracia e Voluntariado
Alguns voluntários têm enfrentado dificuldades com a burocracia ao encaminhar animais para o Cetras. Um biólogo, que preferiu não se identificar, reclamou da abordagem intimidante por parte de órgãos responsáveis no momento da entrega de animais resgatados:
- “O Cetras é um lugar para receber bichos, não tem por que questionar.”
A Polícia Ambiental, por sua vez, declarou que os voluntários são bem-vindos, mas que as ações devem ser encaminhadas de forma legal para evitar infrações ambientais. O acompanhamento dos animais resgatados é essencial para o manejo correto e seguro.
Conclusão
A situação causada pelos incêndios florestais no Brasil é alarmante e requer atenção máxima de autoridades e da população. O trabalho de resgate e reabilitação dos animais afetados continua, mas enfrenta muitos desafios estruturais e burocráticos que podem comprometer a recuperação da fauna local.