Situação da Greve na Boeing
A greve de 33 mil trabalhadores da Boeing seguirá em frente após a rejeição da oferta da empresa em uma votação realizada nesta quarta-feira (23). Os membros do sindicato decidiram permanecer nas linhas de piquete.
De acordo com o sindicato, a adesão da Associação Internacional de Maquinistas à rejeição foi de 64%, um número inferior aos 95% que haviam rejeitado uma proposta anterior. Essa votação não alcançou a maioria simples necessária para encerrar a greve.
Jon Holden, presidente da maior filial local do sindicato e principal negociador, afirmou: “Nossos membros merecem mais. Eles falaram alto, e vamos voltar à mesa para tentar conquistar essas coisas.”
A Boeing, por sua vez, não comentou sobre o resultado da votação até o momento.
Detalhes da Proposta Rejeitada
A proposta que foi rejeitada previa um aumento salarial de 35% ao longo de quatro anos, com um aumento imediato de 12%. Também incluía um bônus de assinatura de US$ 7.000, elevações nas contribuições para os fundos de aposentadoria e garantias de emprego, prometendo que o próximo jato comercial seria produzido em uma fábrica sindicalizada.
No entanto, a ratificação do acordo não era garantida. A liderança do sindicato apenas indicou que a proposta “inclui várias melhorias importantes” e que “merece ser apresentada aos membros”. O acordo anterior, que foi recomendado pela liderança, foi quase unanimemente rejeitado pelos trabalhadores, resultando no início da greve em 13 de setembro.
Perda de Pensão
Um dos principais pontos de discórdia entre os membros sindicatos está relacionado à perda de um plano tradicional de pensão. A adesão ao sindicato havia aberto mão dessa pensão em 2014, após pressões da empresa para construir o 737 Max e o 777X em instalações não sindicalizadas. A perda desse benefício, especialmente em um momento de estabilidade financeira para a Boeing, gerou ressentimento duradouro entre os trabalhadores.
Embora o novo contrato tenha abordado muitos dos objetivos do sindicato e melhorado os benefícios de aposentadoria, ele não restabeleceu o plano de pensão tradicional. Holden destacou que essa é uma “questão crítica” para muitos membros. “Nossos membros não esqueceram o que enfrentaram”, disse ele.
Implicações Financeiras da Greve
A Boeing precisa de um acordo diante do aumento das perdas financeiras. A empresa já anunciou cortes de aproximadamente 10% de sua força de trabalho global, cerca de 17 mil empregos. Essas economias poderiam compensar o aumento nos custos trabalhistas resultantes do novo pacote salarial.
Além disso, a greve está custando à Boeing aproximadamente US$ 1 bilhão mensalmente, agravando ainda mais as perdas contínuas da empresa. No terceiro trimestre, a Boeing reportou uma perda líquida de US$ 6,2 bilhões, um aumento em relação aos US$ 1,6 bilhão do ano anterior.
O CEO da Boeing, Kelly Ortberg, mencionou a necessidade de uma mudança fundamental na cultura da empresa e expressou o desejo de redefinir as relações entre a gestão e o sindicato. Ele reconheceu que o foco de todos é encontrar uma solução para encerrar a greve.
Desafios Prolongados
Os desafios enfrentados pela Boeing não são novos. Os problemas começaram com os acidentes fatais envolvendo o 737 Max em 2018 e 2019, seguidos por uma interrupção de 20 meses da produção desse modelo. A empresa também sofreu com o cancelamento de pedidos em 2020 devido à queda na demanda causada pela pandemia.
Problemas como a explosão de uma tampa de porta em um 737 Max da Alaska Airlines em janeiro deste ano, desencadearam investigações sobre a qualidade dos produtos da Boeing. A Administração Federal de Aviação (FAA) intensificou sua supervisão sobre a empresa, o que poderá dificultar a capacidade de elevar a produção do 737 Max para níveis que permitam a lucratividade novamente.
Apesar de suas dificuldades, a Boeing continua a ser uma peça essencial na economia dos Estados Unidos. A empresa é a maior exportadora do país, contribuindo com aproximadamente US$ 79 bilhões anualmente e apoiando cerca de 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos.
Embora a crise atual seja severa, a participação da Boeing em um duopólio com a Airbus assegura sua sobrevivência, uma vez que ambas são as únicas fabricantes de jatos de grande porte necessários para a indústria aérea global.