Impacto das Tarifas nos EUA e no Comércio Global
Quando os Estados Unidos aumentaram as tarifas sobre a maioria dos produtos que entravam no país, cerca de 90 anos atrás, as repercussões foram drásticas. O comércio internacional sofreu uma queda acentuada, e as exportações americanas desmoronaram, provocando retaliações de outros países e contribuindo para uma das piores crises econômicas da história moderna — a Grande Depressão.
A Proposta de Tarifas de Trump
As tarifas instauradas pela Ley Smoot-Hawley em 1930 podem parecer pequenas em comparação com as que Donald Trump pretende implantar, caso seja reeleito. Ele pretende estabelecer tarifas que variam entre 10% e 20% sobre todos os bens importados para os EUA, levando em conta que a média atual é de apenas 2% para bens não agrícolas. Para as importações da China, a proposta de Trump é ainda mais agressiva, sugerindo uma tarifa de 60%.
Trump, em uma entrevista recente, chegou a afirmar: “Para mim, a palavra mais bonita do dicionário é ‘tarifa’. É minha palavra favorita”.
Críticas dos Economistas
A maioria dos economistas diverge da visão de Trump sobre tarifas, pois essas taxas funcionam como um imposto sobre importações. Elas impactam negativamente os consumidores do país que as impõe e as empresas que dependem de materiais e produtos estrangeiros para a fabricação de seus itens.
Pesquisadores do Peterson Institute for International Economics alertam que as tarifas propostas por Trump podem prejudicar o crescimento econômico global e elevar a inflação tanto nos EUA quanto em outros países que possam responder com tarifas mais elevadas sobre os produtos americanos.
- Uma tarifa de 60% nas importações da China e 10% sobre bens do resto do mundo poderia reduzir o crescimento econômico global em cerca de 1% até 2026.
- As estimativas indicam uma queda média de 6% nos lucros das empresas e uma desvalorização nas ações globais, especialmente nas europeias e chinesas.
- O FMI prevê que a elevação das tarifas resultará em um impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB) global.
Consequências para a Economia da Europa
A economia europeia pode ser particularmente afetada. Caso os EUA aumentem as tarifas para 10% sobre todos os produtos, o impacto no PIB da zona do euro será similar ao resultado da crise de energia provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. O Banco Geral dos Países Baixos prevê que a economia da zona do euro poderá estagnar em 2026, se as tarifas forem implementadas.
A Ameaça à Paz Mundial e ao Comércio
Durante uma recente visita a Chicago, Trump, conhecido por seu estilo combativo nos negócios, afirmou ter sido implacável com países aliados, como o Japão e a Coreia do Sul. Se retornar à presidência, sua abordagem pode prejudicar ainda mais o comércio aberto, princípio que sustentou o crescimento econômico global por décadas.
De acordo com Kristalina Georgieva, chefe do FMI, o comércio global, que tem sido um motor do crescimento e da redução da pobreza, enfrenta riscos crescentes devido ao aumento do protecionismo. Fechar as economias será um erro, pois muitos ainda não se beneficiaram do comércio de maneira equitativa.
- A Organização Mundial do Comércio (OMC) enfrenta limitações para resolver disputas comerciais.
- Restos de acordos bilaterais podem se multiplicar, gerando um sistema comercial mais fragmentado.
Possíveis Retaliações e Controle da Reserva Federal
Além das tarifas, há preocupações sobre o desejo de Trump de exercer mais controle sobre a Reserva Federal dos EUA. Embora não tenha confirmado se demitiria o atual presidente do Fed, Jerome Powell, ele já demonstrou descontentamento com o desempenho do banco. Isso gera temores de que a independência do Fed possa ser ameaçada, gerando instabilidade nos mercados globais.
Investigadores afirmam que interferir na autonomia do Fed é um plano arriscado que pode desestabilizar ainda mais a economia dos EUA e seu papel como principal moeda do comércio internacional.
Se Trump retornar ao governo, suas ações provavelmente serão ainda mais radicais do que durante seu primeiro mandato, já que não terá as restrições de colaboradores convencionais.