Impactos do Rompimento da Barragem do Fundão
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizou um levantamento detalhado sobre os efeitos sociais, ambientais e econômicos do rompimento da barragem do Fundão. O estudo destaca que a lama resultante desse desastre era composta principalmente por ferro, silício e alumínio, e os metais pesados presentes podem causar graves problemas de saúde, incluindo alucinações, paralisia e complicações dermatológicas.
A Situação Atual de Bento Rodrigues
A assessora técnica Mônica dos Santos, que nasceu e cresceu em Bento Rodrigues, expressa seu desamparo ao retornar ao local. Ela e sua família, quase nove anos após o desastre, ainda aguardam uma nova habitação. Segundo Mônica, “o nosso projeto de vida e os nossos sonhos estão enterrados debaixo dessa lama.”
A Fundação Renova ainda não completou as obras de reconstrução no novo Bento Rodrigues, localizado a 9 km do antigo. De um total de 246 imóveis planejados, ainda faltam entregar 96.
Consequências para a Saúde e Expectativa de Vida
O levantamento da FGV revela que a tragédia impactou diretamente a saúde e a qualidade de vida das populações de 45 municípios afetados. A análise mostra que a expectativa de vida dos moradores nessas áreas diminuiu significativamente, chegando a uma média de quase dois anos e meio. Em alguns casos, a perda pode chegar a até 24 anos.
Com base nos dados de 2021 do Datasus, do Ministério da Saúde, o Projeto Rio Doce identificou um aumento alarmante na incidência de doenças:
- Aumento de até 100% em casos de câncer;
- Crescimento de 400% no número de abortos;
- Mais de 400% de aumento em arboviroses, como chikungunya.
Impacto Econômico
O diagnóstico da FGV também aponta que de 2015 a 2018, a perda econômica estimada em Minas Gerais e Espírito Santo foi de quase R$ 500 bilhões, afetando as atividades produtivas em várias regiões. Flávia Silva Scabin, coordenadora do Projeto Rio Doce, aponta que muitos pescadores, que dependem do rio para sua subsistência e manutenção de suas tradições, foram severamente impactados, resultando em insegurança alimentar e insegurança hídrica.
Direitos das Comunidades Indígenas e Quilombolas
A cacica Meire expressa a preocupação de que a lama do desastre tenha enterrado não apenas as fontes de sustento, mas também os direitos fundamentais das comunidades indígenas. Para ela, “a pesca e o acesso aos rios, que são essenciais, foram severamente afetados.”
Posicionamento da Fundação Renova
A Fundação Renova optou por não se pronunciar sobre o estudo realizado pela FGV, que evidencia as graves consequências do rompimento da barragem do Fundão.