Incidentes entre Entregadores na China
Recentemente, várias situações tensas envolvendo entregadores na China ganharam destaque nas redes sociais. Um entregador, após receber uma avaliação negativa, ficou tão agitado que lançou seu celular ao chão. Em outra situação, um entregador ajoelhou-se para pedir desculpas a um policial por ter avançado um sinal vermelho, mas em seguida se levantou de sua motocicleta e fugiu em alta velocidade, desconsiderando o tráfego. Além disso, multidões de motoristas se reuniram em frente a um complexo de apartamentos, clamando por justiça para um colega que teria sido intimidado pelos seguranças do local.
Desafios na Indústria de Entregas
A indústria de entrega na China, avaliada em US$ 200 bilhões, experimentou um crescimento expressivo durante os lockdowns impostos pela Covid-19. Essa situação ofereceu uma fonte de renda estável para muitos trabalhadores informais. Entretanto, com a desaceleração da economia, causada por uma crise imobiliária e a diminuição do consumo, os entregadores enfrentam enormes dificuldades financeiras.
Desempenho Econômico e Implicações
No terceiro trimestre, o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) da China divulgou que o produto interno bruto (PIB) cresceu apenas 4,6% em comparação ao ano anterior, um resultado ligeiramente acima das expectativas dos economistas. Esta desaceleração econômica tem impactos diretos sobre o comportamento dos consumidores, que agora buscam refeições mais baratas, reduzindo assim os ganhos dos entregadores que trabalham predominantemente por comissão.
Jenny Chan, professora de sociologia, comentou sobre a pressão imposta aos entregadores: “Eles estão trabalhando longas horas e continuam enfrentando pressão para que as plataformas de entrega mantenham os custos baixos”.
A Grande Força de Trabalho dos Entregadores
A rede de entrega de alimentos na China é sustentada por cerca de 12 milhões de entregadores, que se tornaram essenciais durante a pandemia. Esses trabalhadores navegam por ruas movimentadas e atravessam condições climáticas adversas para cumprir suas tarefas diárias.
- O mercado de entrega atingiu US$ 214 bilhões em 2023, com estimativas de crescimento para US$ 280 bilhões até 2030.
- A competição acirrada e prazos apertados pressionam os entregadores a acelerarem suas entregas, colocando sua segurança e a de outros em risco.
A Economia Desfavorável e Seus Impactos
Os ganhos dos entregadores têm diminuído. Em média, eles recebem 6.803 yuan (aproximadamente US$ 956) por mês, o que representa uma queda significativa em relação a cinco anos atrás. Isso acontece em um contexto econômico onde os consumidores estão gastando menos, interferindo na renda variável dos entregadores.
Lu Sihang, de 20 anos, compartilhou que realiza cerca de 30 entregas por dia em turnos de 10 horas, conciliando sua rotina para atingir uma renda média de US$ 950 por mês. Gary Ng, economista, explica que a redução no consumo reflete diretamente nas gorjetas e na comissão baseada no valor dos pedidos.
Um Mercado Dominado por Poucas Empresas
A situação dos entregadores é afetada pelo duopólio de duas gigantes do setor: Meituan e Ele.me. Essas plataformas, após um período de competitividade, começaram a ditar os termos de trabalho, prejudicando as condições de trabalho dos entregadores. De acordo com relatos, muitos funcionários enfrentam situações injustas, como multas por decisões tomadas que não estão sob seu controle.
Chan aponta que os entregadores trabalham como freelancers, recebendo por entrega, o que os leva a ignorar condições perigosas nas estradas. As dificuldades financeiras e a falta de segurança têm levado a acidentes graves na profissão, como um recente caso em que um entregador colidiu em um carro após avançar um sinal vermelho.
Reflexões Finais
Apesar das adversidades, muitos entregadores ainda veem valor em seus trabalhos devido à flexibilidade que a profissão oferece. Yang, de 35 anos, comentou que, mesmo com as dificuldades, a liberdade de trabalhar em seus próprios termos é um aspecto positivo em sua rotina.