A Participação Feminina na Aviação Civil
A presença feminina no setor de aviação civil no Brasil ainda é bastante baixa, conforme alertam os especialistas. Os dados mais recentes mostram que apenas 3,2% dos pilotos e mecânicos de manutenção aeronáutica são mulheres. Além disso, pouco mais de 10% das engenheiras atuantes são mulheres e 51% do controle de tráfego aéreo é composto por mulheres.
Desafios Históricos
Kalina Milani, uma das pioneiras na aviação, começou sua trajetória na década de 90, sendo uma das primeiras mulheres a se tornar piloto na extinta companhia aérea Varig. Ela compartilha que no início enfrentou muita resistência e preconceito, com escassas oportunidades disponíveis. Kalina se tornou a primeira mulher a pilotar para a Emirates, o que também foi um desafio, pois a empresa não estava totalmente preparada para receber mulheres em 2000.
Atualmente, Kalina percebe que o ambiente se tornou mais favorável, devido ao esforço das mulheres que vieram antes dela, afirmando que “cada uma se dedicando e mostrando que a gente trabalha de igual pra igual” e que “ainda existem barreiras, mas as pessoas estão se acostumando a ver mulheres na cabine de comando”.
Estereótipos e Desigualdades
A professora Inez Lopes, da Universidade de Brasília, ressalta que a baixa participação feminina no setor é resultado de desigualdades históricas. As mulheres foram historicamente vistas como menos adequadas para a aviação, o que restringiu suas oportunidades.
A vice-presidente de Comunicação da Associação Internacional de Mulheres da Aviação, Cristiane Dart, aponta que as meninas desde cedo enfrentam estereótipos que desencorajam suas aspirações na carreira. A luta contra esses estereótipos é um caminho essencial para aumentar a representatividade feminina no setor.
Iniciativas de Inclusão
O governo federal, por meio da iniciativa “Asas para Todos”, busca incentivar a inclusão e a diversidade na aviação. O projeto tem como objetivo aumentar a participação feminina e promover a formação em profissões aeronáuticas. Mariana Altoé, especialista da ANAC, enfatiza a importância de visibilidade, afirmando que se as mulheres não veem outras ocupando posições de destaque, elas não se enxergam lá.
Através do grupo Aviadoras, fundado por Kalina e suas colegas, um espaço foi criado para apoiar as mulheres na aviação, proporcionando mentorias e bolsas de estudo. O grupo evoluiu e se tornou a Associação das Mulheres Aviadoras do Brasil (AMAB), já tendo concedido 60 bolsas até o momento.
Companhias Aéreas e a Diversidade
Aerolíneas Azul
A Azul atualmente conta com cerca de 110 mulheres em seu quadro de pilotos e apoia a campanha da IATA para promover a diversidade de gênero, além de ter parcerias com a AMAB para incentivar a carreira feminina na aviação.
GOL
A GOL é signatária da iniciativa 25by25 da IATA e destaca a importância da equidade de gênero, possuindo desde janeiro de 2024 uma mulher na liderança dos pilotos. O número de mulheres pilotos na GOL ainda é inferior a 5%, mas as inscrições femininas nos processos seletivos têm aumentado.
LATAM
A LATAM implementou uma Política de Diversidade e Inclusão em 2021, com compromissos voltados ao equilíbrio de gênero e diversidade. Em 2022, as mulheres representaram mais de 60% dos novos cargos executivos contratados pela empresa no Brasil. A LATAM continua investindo em programas e parcerias para impulsionar a formação e contratação de mulheres na aviação, incluindo vagas afirmativas e mentorias.