Postura do Brasil em Relação às Conflitos Internacionais
O Brasil adotou uma abordagem firme em relação à operação militar israelense na Faixa de Gaza, mas utilizou um tom mais suave ao se referir à invasão da Ucrânia pela Rússia durante um pronunciamento na sessão ampliada da Cúpula dos Brics.
A Guerra em Gaza
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, representando o Brasil na cúpula, descreveu a guerra de Israel contra o Hamas como uma “punição coletiva” aos palestinos após os ataques de 7 de outubro. Durante seu discurso, ele afirmou:
- Atos terroristas não têm justificativa: Vieira ressaltou que não há razão para defender atos terroristas, mas criticou a resposta desproporcional de Israel, que resultou em uma punição coletiva ao povo palestino.
- Impacto das explosões: Ele mencionou que a quantidade de explosivos lançados sobre Gaza supera a que foi utilizada em cidades como Dresden, Hamburgo e Londres durante a Segunda Guerra Mundial.
O chanceler também defendeu as ações dos países do Sul Global em meio ao conflito, como:
- A Iniciativa pela Paz da Liga Árabe.
- O papel do Catar na mediação das negociações por um cessar-fogo.
- A ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o que considera um “genocídio” na Faixa de Gaza.
Ele expressou frustração com a postura de outros países, afirmando que aqueles que se autodenominam defensores dos direitos humanos estão “fechando os olhos diante da maior atrocidade da história recente”. Além disso, acrescentou que “não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino independente”.
Conflito Rússia e Ucrânia
Em relação à invasão russa na Ucrânia, Mauro Vieira evitou críticas ao Kremlin. Ele defendeu a proposta do Brasil e da China para resolver o conflito, que propõe um processo dividido em seis etapas. Esta iniciativa inclui:
- Negociações diretas entre Kremlin e Kiev.
- Congelamento do front de batalha, mantendo a situação atual sem novos avanços territoriais.
A Ucrânia e seus aliados criticam a proposta, alegando que ela é “pró-Rússia”, pois não solicita a retirada imediata das tropas russas do território ucraniano. Em seu discurso, Vieira disse:
“Formamos um clube da paz para fomentar o diálogo e buscar uma solução duradoura. Essa solução duradoura só virá com o respeito ao direito internacional, incluindo os propósitos e princípios consagrados na Carta da ONU, e o papel central das Nações Unidas no sistema internacional.”
Desafios do Sul Global
Por fim, o ministro das Relações Exteriores apresentou uma lista de desafios que os países de renda baixa ou média enfrentam em um cenário de concentração global de renda e revoluções tecnológicas intensificadas. Entre os principais desafios, destacam-se:
- A transição energética para uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.
- O desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial.
- O fomento à industrialização.
Mauro Vieira argumentou que é essencial que o Sul Global se una para alterar a estrutura dos organismos de cooperação internacional. Ele mencionou a ideia de convocar uma espécie de assembleia constituinte para reescrever a Carta da ONU, uma proposta já levantada por Lula em um evento na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York.
“Queremos explorar esses temas ao longo de nossa presidência dos Brics, no ano que vem, que terá como lema Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável,” afirmou Vieira.