Estudo sobre Agrotóxicos na Cafeicultura
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais, revelou que o uso de produtos antifúngicos na cafeicultura aumenta o risco à saúde dos agricultores, sendo este risco duas vezes maior do que o aceitável, podendo afetar o fígado.
Resultados da Pesquisa
A pesquisa da Unifal demonstrou os efeitos prejudiciais de certos agrotóxicos à saúde de trabalhadores rurais no Sul de Minas. Os cientistas analisaram fungicidas triazóis, que são utilizados em diversas culturas agrícolas, incluindo a cafeicultura. Segundo a pesquisadora Isarita Martins Sakakibara, esses compostos são projetados para inibir o crescimento de fungos, mas a sua falta de seletividade pode também impactar a saúde humana.
Metodologia do Estudo
Durante o estudo, amostras de sangue e urina foram coletadas de 190 camponeses com mais de 18 anos, entre dezembro de 2021 e março de 2022. Os participantes foram divididos em dois grupos:
- 140 trabalhadores rurais expostos aos agrotóxicos durante suas atividades profissionais e em outros ambientes frequentes.
- 50 moradores de áreas urbanas que não estavam expostos aos produtos agrícolas.
As amostras foram analisadas no Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos da Unifal, utilizando técnicas tradicionais de biomonitoramento e ferramentas de toxicologia computacional, introduzidas na pesquisa pelo pós-graduando Luiz Paulo de Aguiar Marciano.
Impactos na Saúde
Os resultados mostraram que o uso de fungicidas triazóis provoca um desequilíbrio no processo de oxidação e reduz a produção de hormônios como a androstenediona e a testosterona. A pesquisadora Isarita Martins Sakakibara destacou que a detecção de altos níveis de epoxiconazol na urina indica um risco de saúde significativo para a população estudada:
“Considerando o maior valor detectado de epoxiconazol urinário, foi caracterizado um risco duas vezes maior que o aceitável, o que é significativo para a saúde humana, especialmente pela alta frequência e intensidade da exposição”.
Isarita também enfatizou a necessidade de monitoramento da saúde dos trabalhadores rurais e de políticas públicas eficazes para prevenir os efeitos tóxicos dos agrotóxicos.
Financiamento e Relevância do Estudo
O estudo contou com o financiamento de agências nacionais como FAPEMIG e CAPES, além do National Institute of Health dos EUA, que foram fundamentais para a sua execução. Isarita Martins Sakakibara destacou a importância do setor agrícola para a economia brasileira e os desafios trazidos pelo uso intenso de agrotóxicos:
“O apoio dessas agências permite não só a formação de recursos humanos qualificados, mas também a produção de conhecimento necessário para enfrentar esses desafios, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida dos trabalhadores”.
As descobertas deste estudo são importantes para discutir e estabelecer limites de exposição que protejam a saúde da população rural, fornecendo subsídios para uma reavaliação das monografias de agrotóxicos no Brasil.