Infecções Após Cirurgias Oculares em Belém
Um episódio alarmante ocorreu em Belém, onde 24 pacientes que se submeteram a cirurgias oculares em uma clínica vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS) apresentaram infecções bacterianas. Dentre esses pacientes, pelo menos 10 perderam a visão. A informação foi confirmada pelo secretário municipal de Saúde, Pedro Anaisse.
As cirurgias foram realizadas em duas datas: 12 de junho e 1° de julho de 2024, totalizando cerca de 81 pacientes que buscavam melhorar a visão. A Secretaria de Saúde de Belém esclareceu que esses procedimentos eram parte de uma rotina da clínica, e não de um mutirão.
Clínica Oftalmológica e Interdição
A clínica em questão, denominada Clínica Oftalmológica São Lucas, está situada no distrito de Icoaraci, na região metropolitana de Belém. Segundo informações da clínica, os pacientes afetados sofreram de endoftalmite, uma inflamação aguda no globo ocular, frequentemente causada por falta de esterilização de instrumentos cirúrgicos ou uso de materiais contaminados. Após as ocorrências, o centro cirúrgico da clínica foi temporariamente interditado pela Vigilância Sanitária.
Relatos das Vítimas
Alguns pacientes que tiveram complicações após as cirurgias compartilharam suas experiências:
- Benedita da Costa: A cozinheira relata que no dia seguinte à cirurgia, começou a sentir dores e voltou à clínica, onde encontrou muitos pacientes na mesma situação. Ela perdeu a visão do olho esquerdo.
- Doralice Araújo: A dona de casa, que também perdeu o olho esquerdo, disse que os problemas começaram já no dia seguinte à cirurgia. Ela recebeu a proposta de um transplante de córnea, mas a inflamação era intensa.
- Albanize Soares: Aos 65 anos, Albanize teve que retirar o globo ocular esquerdo devido à infecção. Sua filha revelou condições insalubres na clínica, mencionando a presença de lixo e até barata morta.
- Ari Mesquita: O fotógrafo notou que seu olho estava muito inflamado logo após a cirurgia de catarata. Ele também perdeu a visão do olho esquerdo.
Ações e Investigação
Após a confirmação das irregularidades, a Vigilância Sanitária interditou o centro cirúrgico e o Centro de Material e Esterilização (CME). As infrações encontradas incluíram:
- Não cumprimento dos protocolos de segurança do paciente;
- Falta de comprovação de limpeza e esterilização dos instrumentos;
- Estrutura física inadequada em relação ao número de cirurgias realizadas.
A Polícia Civil do Pará também está envolvida nas investigações, apurando possíveis crimes de exercício irregular da medicina, após o acionamento do Ministério Público. Além disso, o Conselho Regional de Medicina (CRM) está investigando a conduta ética dos profissionais da clínica e fez uma inspeção nas instalações.
Posicionamento da Clínica
A clínica, em nota, afirmou que segue as diretrizes de segurança e controle de infecção, e que as cirurgias foram realizadas após consultas médicas. A administração da clínica se compromete a colaborar com as investigações e a prestar apoio às vítimas e suas famílias.