Amanhã, 18 de agosto de 2023: Manutenção da Prisão dos Funcionários do PCS Saleme
A Polícia Civil finalizou a primeira fase da investigação sobre órgãos transplantados que testaram positivo para HIV e, nesta sexta-feira (18), a Justiça decidiu manter a prisão temporária de quatro funcionários do laboratório PCS Saleme.
Depoimentos e Revelações
Cleber de Oliveira Santos, que foi o último a ser preso, alegou em depoimento, do qual o RJ2 teve acesso, que não estava mais empregado no PCS Saleme durante a realização dos testes que apresentaram resultados incorretos. O biólogo aposentado afirmou que sua contratação foi feita apenas verbalmente e que ele foi substituído em 20 de janeiro de 2024, com a chegada da nova coordenadora, Adriana Vargas dos Anjos. O primeiro exame corroborando o falso negativo foi realizado apenas três dias depois, em 23 de janeiro.
Durante seu tempo como coordenador, Cleber afirmou que sempre exigiu o controle de qualidade diário dos equipamentos de laboratório.
Economia em Desfavor do Controle de Qualidade
Os depoimentos de Jacqueline Bacellar e Ivanílson Fernandes dos Santos, ambos atualmente presos, revelaram que receberam instruções para reduzir os custos relacionados ao controle de qualidade. Jaqueline afirmou que a ordem para economizar foi dada pelo próprio Walter Vieira, proprietário da clínica, que também se encontra detido. A instrução era que a calibragem dos aparelhos, que deveria ocorrer diariamente, fosse efetuada apenas uma vez por semana, comprometendo assim a segurança e a precisão dos resultados.
Jacqueline ainda informou que os funcionários do PCS Saleme foram avisados previamente sobre uma inspeção da Vigilância Sanitária no Instituto Estadual de Cardiologia (Iecac). Ela recebeu essa informação em 5 de outubro por meio de um grupo de WhatsApp e afirmou que foi feito um esforço para garantir que a fiscalização ocorresse da melhor maneira possível.
Depoimentos Adicionais
A coordenadora técnica do PCS, Adriana Vargas, foi acusada por Ivanílson de ter dado as instruções para a redução no controle de qualidade. Embora não tenha sido presa, ela compareceu para prestar depoimento, afirmando que sua função era apenas supervisionar os técnicos e que não tinha conhecimento de alterações nos protocolos de controle de qualidade, além de nunca ter dado ordens para que este controle fosse realizado semanalmente.
Matheus Vieira, filho de Walter e também proprietário do laboratório, inicialmente permaneceu em silêncio durante seu depoimento, mas acabou se manifestando novamente. Ele negou com veemência que a frequência de controle de qualidade tivesse sido alterada em função de cortes de custo e também desmentiu que o laboratório tivesse conhecimento antecipado sobre a fiscalização da Vigilância Sanitária.
Novas Acusações do Ministério Público
O Ministério Público (MP) apresentou à Justiça novas acusações relacionadas ao caso. Os promotores alegam que os investigados e o PCS Saleme já emitiram diversos laudos com resultados falsos, tanto positivos quanto negativos para HIV, inclusive em exames realizados em crianças. Eles estão sendo processados por várias ações indenizatórias por danos morais e materiais, o que demonstra desrespeito com a vida dos clientes e a população em geral. O MP concluiu que “os erros nos laudos representam total desrespeito à vida, movida pela ganância e pelo lucro, algo sem precedentes no Brasil”.
Controle de Qualidade dos Testes de HIV
O RJ2 visitou um laboratório na Zona Norte do Rio de Janeiro para demonstrar como os exames de HIV devem ser realizados, seguindo as normas e um rigoroso controle de qualidade. No Rio, existem três laboratórios privados com capacidade similar a este, que realizam exames em larga escala e estão sujeitos a fiscalização rigorosa. Além disso, o Hemorio, uma importante instituição pública, possui grande capacidade para esses tipos de exames.
É alarmante que exames tão cruciais quanto os realizados pela Central Estadual de Transplantes tenham sido feitos em um espaço pequeno, sob a responsabilidade de um laboratório de escala muito inferior.
A sala de exames estava localizada dentro do Instituto Estadual de Cardiologia, no bairro Humaitá, Zona Sul do Rio. A administração do instituto informou à polícia que o PCS Saleme nunca comunicou ao hospital que os testes para transplantes estavam sendo realizados ali, já que a sala tinha como objetivo realizar exames apenas para o próprio Iecac.