Desafios da Agropecuária no Rio Grande do Sul
As mudanças climáticas têm causado sérios impactos na agropecuária do Rio Grande do Sul. A combinação de estiagem em 2019 e 2020, seguida por enchentes em 2023 e 2024, levou muitos agricultores a abandonarem suas propriedades. O acúmulo de dívidas gerado por essas catástrofes impossibilitou a recuperação das áreas afetadas.
A Dura Realidade dos Produtores Rurais
Jonas Keisacamp, um produtor rural, sofreu pessoalmente com as consequências das chuvas. Ele relata que essa é uma das perguntas mais difíceis de responder para seu filho pequeno: “Pai, onde é que estão as vacas?”.
A partir de 27 de abril, tempestades severas atingiram mais de 470 cidades, resultando em um aumento considerável no nível dos rios e causando a morte de pelo menos 182 pessoas. Desde 2019, muitos produtores já enfrentavam dificuldades devido a secas, e em janeiro de 2020, 28 municípios declararam emergência por estiagem.
A Sequência de Desastres
No final de 2023, foram registradas enchentes, inicialmente em setembro, com um ciclone extratropical, e depois em novembro, devido ao acúmulo excessivo de chuvas. Estas calamidades danificaram significativamente as propriedades dos agricultores, que já estavam em processo de reconstrução antes dos desastres de maio deste ano.
Novas Direções Profissionais
Diante da devastação, muitos produtores se viram obrigados a mudar para a cidade e buscar novas profissões. Alguns, como Jonas, se tornaram mecânicos; outros, como Jorge Hinning, de 53 anos, se transformaram em pedreiros.
Jorge relata que sua vida sempre foi ligada à lavoura, e é forçado a se adaptar a esta nova realidade, mesmo contra sua vontade. “A gente tem que se adaptar de um jeito ou de outro. Fazer o que, né?”, afirma.
Histórias de Superação
Telmo e Clair Hendges
A trajetória de Telmo começou a mudar muito antes das chuvas. Ele precisou deixar o campo aos 20 anos, e somente em 2008 conseguiu retornar com uma lavoura de suínos e gado leiteiro. As enchentes de 1° de maio trouxeram destruição total para sua propriedade.
Telmo e sua esposa, Clair, foram resgatados pela defesa civil depois de terem suas casas alagadas. Embora tenha recebido um seguro, o valor foi muito aquém dos R$ 2,5 milhões de prejuízo que enfrentou. Atualmente, Telmo trabalha em um posto de gasolina, e Clair, apesar de ter idade para se aposentar, teve seu pedido negado.
Jorge Hinning
Jorge, que sempre viveu em Cruzeiro do Sul, também enfrentou perdas frequentes em suas colheitas desde 2019. Em maio, as chuvas destruíram completamente sua lavoura e levaram até os animais. Ele e sua família passaram pela experiência angustiante de se abrigar em altos lugares enquanto aguardavam resgate.
Após a tragédia, eles precisaram se mudar para a cidade. Jorge trabalha na construção civil e a família se divide entre empregos diversos para sobreviver, enquanto tentam vender a propriedade, sem sucesso.
Jonas Keisacamp
Jonas sempre sonhou em passar adiante a propriedade familiar, mas teve que desistir após perdas significativas com as enchentes. Ele precisa se reinventar em empregos fora do campo e ainda enfrenta desafios financeiros com dívidas do maquinário.
Ele sonha em um dia recuperar sua lavoura, mas a incerteza causada pelos desastres o faz questionar seu futuro e o legado que gostaria de deixar para seu filho.
Conclusão
As histórias de Telmo, Jorge e Jonas exemplificam os desafios enfrentados pelos produtores rurais no Rio Grande do Sul. A luta pela sobrevivência e adaptação a novas realidades continua, mostrando a resiliência e determinação desses homens e mulheres que dedicaram suas vidas à agropecuária, mesmo quando as circunstâncias se tornam quase impossíveis.