Introdução
O pesquisador Saul Newman foi premiado com o IgNobel deste ano devido a um estudo que revelou sérios problemas nos registros civis de regiões com supercentenários. Ele classificou esses dados como ‘absurdos’ e ‘ridículos’, levantando questionamentos sobre a veracidade das informações sobre longevidade.
Zonas Azuis: O Que São?
Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Loma Linda (Estados Unidos), Icaria (Grécia) e Nicoya (Costa Rica) são conhecidas como zonas azuis. Essas regiões ganharam notoriedade por abrigar uma grande quantidade de pessoas com idade avançada. Segundo estudiosos, essas áreas possuem um estilo de vida saudável, incluindo:
- Dieta equilibrada
- Prática regular de exercícios
- Outros hábitos saudáveis
A Investigação de Saul Newman
Newman, que atua no Centro de Pesquisa Longitudinal da Universidade College London, decidiu investigar a validade das informações relacionadas a esses supercentenários. Ele encontrou erros e inconsistências nos dados a respeito dos registros de nascimento e morte. Um exemplo notável é Okinawa, onde uma revisão em 2010 revelou que 82% dos cidadãos com mais de 100 anos já haviam falecido, mas seus óbitos não haviam sido registrados.
Dados Questionáveis
Além disso, estudos nutricionais desde a década de 1970 apontam que Okinawa apresenta alguns dos piores índices de saúde do Japão, com habitantes consumindo menos vegetais em comparação ao restante da população.
Newman compilou suas descobertas em um artigo que está disponível em formato preprint e recebeu o IgNobel em 2024, celebrado na Universidade Harvard. O prêmio visa incentivar o interesse pela ciência, medicina e tecnologia.
Inconsistências em Outros Estudos
O pesquisador avaliou que muitos dados acerca de supercentenários são problemáticos e propôs um modelo matemático que sugere que a maioria desses dados são “lixo”. Ao analisar registros nos Estados Unidos, ele constatou que apenas 7 pessoas com mais de 110 anos possuíam certidões de nascimento válidas, e apenas 10% tinha certidão de óbito confiável.
Em outras regiões como Icaria, na Grécia, Newman estimou que 72% dos centenários registrados já estão mortos ou são casos de fraude previdenciária. A situação é similar em Sardenha, onde análises regionais mostram que as regiões não estão entre as melhores em expectativa de vida.
A Crítica às Zonas Azuis
Newman argumenta que muitos dados sobre longevidade são construídos sobre bases falhas. Por exemplo, em Nicoya, um estudo de 2008 descobriu que 42% dos entrevistados com mais de 99 anos mentiram sobre suas idades. Essas constatações põem em xeque a ideia de que essas zonas são os melhores locais para envelhecer.
O Que Ignoraram?
De acordo com Newman, a falta de questionamentos sobre esses dados se deve a interesses financeiros e à busca por soluções simples para problemas complexos. Ele critica a falta de ceticismo na comunidade científica frente a afirmações sobre longevidade.
Além disso, ele contesta a ideia de que relações familiares e a dieta mediterrânea são fatores que promovem longevidade, afirmando que muitos dados e alegações sobre esses estilos de vida são artificiais.
O Mito da Dieta Mediterrânea
A dieta mediterrânea, muitas vezes exaltada como exemplo de alimentação saudável, é outro ponto de crítica de Newman. Ele enfatiza que, apesar do apelo por ser considerada saudável, na prática, a alimentação dessas regiões é muito mais diversificada e nem sempre é tão saudável quanto se diz.
Conclusão
Newman afirma que as zonas azuis são construídas a partir de dados problemáticos e que muitos dos fatores atribuído às suas populações longevas são, na verdade, mitos. Ele sugere a necessidade de novos métodos para verificar a idade das pessoas, independentes de documentos, para uma análise mais precisa.