Introdução
A realidade da infância no Brasil enfrenta sérios desafios, especialmente para cerca de 6,6 milhões de crianças com até seis anos, que se afastam da educação e de atividades sociais devido à falta de saneamento básico. Essa informação foi trazida por um estudo do Instituto Trata Brasil, publicado recentemente.
Impacto na Educação e Renda Futuras
A pesquisa destacou que a carência de saneamento é um dos fatores que contribuem para as notas baixas nas diversas fases escolares e também para uma renda menor na vida adulta. As consequências financeiras são significativas, com uma diferença de mais de R$ 126 mil entre aqueles que tiveram acesso ao saneamento básico durante a infância e os que não tiveram. Essa disparidade pode influenciar questões importantes, como a capacidade de adquirir uma casa própria.
Além disso, o estudo aponta que a população com acesso a serviços essenciais como abastecimento de água tratada e coleta de esgoto apresenta um risco reduzido de contrair doenças hídricas e respiratórias.
Afastamento por Doenças na Infância
Segundo o Ministério da Saúde, a primeira infância se estende até os seis anos. Em 2019, 6,6 milhões de crianças dessa faixa etária sofreram doenças como dengue e gripe, o que resultou no afastamento de quatro em cada dez crianças de atividades normais, como creche e pré-escola.
No período da segunda infância, compreendido entre sete e 11 anos, as crianças que enfrentam um acesso precário a saneamento têm o desenvolvimento físico e cognitivo comprometido, devido às ausências escolares que prejudicam seu aprendizado.
Efeitos na Educação
A pesquisa avaliou dois grupos distintos de alunos com base no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2021: um composto por crianças com acesso à água tratada e outro sem. Os resultados mostraram que os alunos sem água tratada tiveram uma nota 20,9 pontos menor em língua portuguesa e 19,1 pontos a menos em matemática.
Esses alunos demonstraram dificuldades em identificar temas comuns em textos e em resolver questões simples de matemática, como interpretar horas em um relógio de ponteiro.
Impactos na Vida Adulta
A pesquisa conclui que o nível educacional inferior compromete a empregabilidade e resulta em salários mais baixos, devido à menor capacitação para funções que exigem maior qualificação. Contudo, quando essas pessoas têm acesso a saneamento básico, espera-se uma melhoria na qualidade de vida, que poderá reduzir afastamentos por doenças e aumentar tanto a produtividade quanto a remuneração.
Saneamento Básico e Doenças em Crianças
Dados do Sistema de Informações de Atenção Básica revelam que, em 2005, apenas 36,7% da população brasileira tinha acesso a saneamento, resultando em 5,5 casos de diarreia a cada 100 crianças com até dois anos. Contudo, entre 2005 e 2010, esse acesso aumentou para 43,9%, levando a uma redução dos casos de diarreia para 2,5.
Entre 2010 e 2015, a incidência de diarreias em crianças caiu ainda mais, chegando a 2,2 casos por 100 crianças. Na região Sudeste, 89% das famílias têm abastecimento de água e 80,6% possuem coleta de esgoto, o que resulta nos menores índices de diarreia em crianças de até dois anos. Em contrapartida, a região Norte apresenta os menores índices de cobertura de saneamento, com apenas 50,3% de acesso à água e 7,5% de coleta de esgoto, gerando as maiores taxas de diarreia nesta faixa etária.