O Desafio do “Last-Mile” na Internet
Na esfera da internet, o conceito de “última milha” é amplamente reconhecido. Muitas pessoas e empresas ao redor do mundo enfrentam dificuldades para acessar a banda larga devido à falta de infraestrutura que conecta o usuário à rede principal da internet.
Esse trecho essencial da rede pode ser de apenas algumas centenas de metros a alguns quilômetros. Construir essa infraestrutura muitas vezes é caro e desafiador, principalmente em áreas rurais e remotas, onde o número de usuários é reduzido.
Uma Solução Promissora: Óptica de Espaço Livre (FSO)
Uma possível solução para o problema é a tecnologia conhecida como “óptica de espaço livre” (FSO). Essa abordagem utiliza lasers para transmitir dados pelo ar. Embora tenha sido aplicada pela NASA na década de 1960, o seu potencial disruptivo para a infraestrutura da internet ainda não foi totalmente explorado comercialmente.
No entanto, a FSO enfrenta um desafio significativo: as condições climáticas. Neblina, chuva e até mesmo pequenas turbulências no ar podem prejudicar a conexão, que também exige uma linha de visão clara entre transmissor e receptor. Apesar de não exigir licenciamento ou regulamentação, como acontece com tecnologias de rádio, a FSO ainda não se tornou uma realidade no mercado.
A Inovação da Attochron
Recentemente, a empresa Attochron, localizada na Virgínia, anunciou que está preparada para lançar sua própria versão dessa tecnologia após mais de 20 anos de desenvolvimento. Em julho, a Attochron conseguiu um financiamento de US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 85 milhões) e já iniciou a produção do seu principal produto de hardware, denominado ALTIS-7. Este equipamento, que se assemelha a uma câmera de segurança, inclui um receptor e um transmissor.
Para testar sua tecnologia, a Attochron se uniu à empresa de telecomunicações Lumen e a um grande varejista para conduzir um “projeto piloto” de três meses. A conexão a laser alcançou uma distância de 2,4 km, com taxas de transferência de 1,25 gigabits por segundo, podendo atingir até 10 gigabits, rivalizando com as conexões de fibra ótica mais rápidas.
Desafios e Oportunidades
Desde sua fundação em 2002, a Attochron não havia lançado nenhum produto, o que, segundo seu CEO Tom Chaffee, é um reflexo da crença em uma ideia que ainda não havia chegado ao seu tempo. A empresa sobreviveu com o apoio de amigos e familiares até conseguir seu primeiro investimento sólido.
Chaffee destaca que a empresa fundamentou seu conhecimento na física da FSO e formou uma equipe resiliente ao longo do caminho. Situs como Lexington, na Virgínia, impõem desafios climáticos, mas a Attochron inova ao utilizar pulsos de luz muito curtos e um espectro amplo, assegurando maior estabilidade do sinal.
Vantagens Econômicas e Possibilidades de Uso
As vantagens da FSO são notáveis, especialmente em termos de custo. Um sistema da Attochron que oferece uma conexão de 10 gigabits tem um custo aproximado de US$ 30.000 (cerca de R$ 170.000), enquanto instalar cabos de fibra ótica pode custar entre US$ 250.000 (cerca de R$ 1,4 milhão) e US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões). Além disso, a instalação da FSO é mais rápida, podendo ser realizada em horas.
A empresa tem como principal público-alvo as empresas, oferecendo links que serão vendidos a provedores e operadoras de banda larga. Além disso, a Attochron considera aplicações em áreas como o setor militar e em locais com espectro de rádio congestionado, como próximos a aeroportos.
Embora ainda haja incertezas sobre a validade da tecnologia, especialistas veem um potencial significativo. Hazem Refai, da Universidade de Oklahoma, menciona que a FSO não requer licenciamento para operação, o que facilita sua implementação.
No entanto, James Osborn, da Universidade de Durham, alerta para a complexidade dos sistemas que utilizam pulsos de laser extremamente rápidos. Apesar disso, ele reconhece as vantagens em termos de segurança de dados e a utilidade da FSO na conexão de última milha.
Uma Tecnologia Complementar
Chaffee enfatiza que a Attochron não busca substituir as tecnologias existentes, mas sim complementar. Ele acredita que a FSO é uma tecnologia habilitadora, capaz de trabalhar em conjunto com a infraestrutura atual e não como uma alternativa à fibra ótica.