Introdução ao Aborto nos EUA
Um grupo de mulheres nos Estados Unidos oferecia procedimentos abortivos em apartamentos, burlando a legislação vigente. Nesse mesmo período, o caso ‘Roe vs Wade’ surgia, garantindo o direito ao aborto no país por quase cinco décadas. A questão do aborto se tornou um dos temas mais relevantes nas eleições americanas atuais.
A História de Eileen Smith
Eileen Smith, uma mulher de Chicago, recorda sua situação ao engravidar: “Estava vivendo com alguém que não era a pessoa certa, desempregada e em meio a uma depressão”. Para encontrar uma solução, ela viu um anúncio em um jornal que dizia: “Grávida? Não quer estar? Ligue para a Jane.” Ao ligar, ela entrou em contato com um grupo clandestino de apoio a mulheres em situações semelhantes.
As “Janes” e Seus Serviços Clandestinos
Esse grupo, conhecido como Janes, se formou no final da década de 1960, em um contexto em que muitas mulheres não tinham escolhas sobre suas gestações. As integrantes não apenas realizaram abortos, mas também criaram uma rede de apoio em defesa dos direitos reprodutivos.
As Janes ofereciam procedimentos que, embora ilegais, eram considerados seguros. Para evitar a polícia, mudavam de endereço frequentemente, utilizando apartamentos em Chicago para atender as mulheres.
A Experiência de Martha Scott
Martha Scott, uma das integrantes do grupo, descobriu a rede enquanto estava em um parquinho com seus filhos. Ela explica: “Se você achasse que precisava de um aborto, poderia fazer coisas mais perigosas do que ter um bebê”. Assim, decidiu se juntar às Janes, inicialmente ajudando no conforto das pacientes e, eventualmente, realizando os procedimentos.
Eileen lembra de sua experiência: “Estava apavorada. Não conhecia ninguém na sala, mas a Martha foi muito gentil comigo”. Três dias após o aborto, Eileen recebeu uma ligação do grupo para saber como estava, refletindo a preocupação e o cuidado das Janes.
O Caso Roe vs Wade
Na mesma época, surgia o nome de Jane Roe, um pseudônimo de Norma Nelson McCorvey, que se tornou a protagonista do famoso caso judicial. Ela enfrentava diversos problemas pessoais e, após ter engravidado pela terceira vez, buscou ajuda para realizar um aborto, enfrentando a ilegalidade da prática no Texas. Assim, nasceu o caso “Roe contra Wade”, que desafiou a constitucionalidade das leis antiaborto no país.
A Suprema Corte decidiu que o direito à privacidade estava garantido na Constituição, permitindo que as mulheres realizassem abortos com segurança, o que provocou uma revolução e fortaleceu os grupos contrários ao aborto.
O Movimento Pró-Vida
O movimento pró-vida, defendido predominante por grupos católicos, ganhou força após a decisão de 1973. Ann Scheidler é uma das vozes ativas nesse movimento, expressando sua indignação com a falta de reconhecimento do valor da vida fetal. A pressão sobre essa questão intensificou-se, especialmente após a morte da juíza Ruth Bader Ginsburg.
As Mudanças Recentes na Legislação
Com a nomeação de Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, as normas garantidas pelo Roe vs Wade foram revertidas em 2022, retirando o direito ao aborto em várias partes do país. A médica Deborah Stalberg observa que, apesar das restrições, o número de abortos realizados aumentou, já que muitas mulheres viajam para estados onde o procedimento é permitido.
Ela destaca que “a melhor pessoa para decidir sobre uma gravidez é quem está grávida”, enfatizando a complexidade das motivações que levam uma mulher a interromper uma gestação.
A Questão do Aborto nas Eleições Americanas
Nas eleições presidenciais, o aborto tornou-se uma questão central. O apoio ao acesso ao aborto aumentou após a revogação do direito em 2022. A democrata Kamala Harris busca transformar o direito ao aborto em uma lei federal, enquanto Donald Trump defende que cada estado decida sua própria legislação.
Além disso, estados como Flórida e Arizona realizarão referendos sobre a questão do aborto, o que pode influenciar o resultado das eleições.