Transição de Regime no Brasil
O Brasil está vivenciando uma transição de regime marcada por juros contracionistas, diminuição dos estímulos fiscais e indícios de desaceleração da atividade econômica. Esses fatores geram um aumento nas incertezas, levando o Banco Central a se apoiar em dados para decidir sua política de juros futura. Essa análise foi apresentada pelo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Paulo Picchetti, durante um evento da XP Investimentos em Washington.
Preocupações com a Inflação
Picchetti expressou preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação, os preços atuais e a situação apertada do mercado de trabalho. Ele afirmou:
“Estamos em um período que eu caracterizaria como transição de regime, e neste período é muito, muito difícil avaliar exatamente onde você está chegando. Nesses casos, a volatilidade e a incerteza estão claramente aumentando…”
O diretor destacou a dificuldade em prever os próximos passos da política monetária, mencionando:
“Não vemos as informações necessárias para nos comprometermos com os próximos passos em termos de ritmo e até mesmo a duração total e o tamanho total deste ciclo.”
Compromisso com a Meta de Inflação
Ele também reforçou o compromisso do Banco Central em tomar as medidas necessárias para manter a inflação dentro da meta estabelecida. Picchetti alertou que as expectativas do mercado em relação à inflação têm se afastado do alvo desejado, com previsões para 2025 se aproximando do teto da meta, o que é alarmante.
O boletim Focus mais recente do Banco Central indica que o mercado espera uma inflação de 4,50% para este ano, em comparação com 4,37% há um mês, e de 3,99% para 2025, contra 3,97% anteriormente. A meta de inflação contínua é de 3%, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual.
Projeções de Inflação e Desafios
Na visão de Picchetti, as projeções de inflação do Banco Central, atualmente em 3,7% para 2025 e 3,5% para o primeiro trimestre de 2026, indicam que a trajetória dos preços não está alinhada com a meta desejada.
Além disso, mesmo com a inflação corrente apresentando sinais de desaceleração, Picchetti observou que ela permanece acima da meta, o que também é motivo de preocupação. Ele mencionou a ocorrência de choques pontuais na oferta e destacou a necessidade de atenção aos núcleos de inflação.
Próximos Passos da Política Monetária
Para decidir sobre futuros passos da política monetária, o Banco Central avaliará diversos fatores, incluindo:
- Expectativas e projeções de inflação
- Mercado de trabalho
- Evolução fiscal
- Atividade econômica
Embora o crescimento econômico tenha surpreendido positivamente, Picchetti destacou que dados recentes, como as vendas de bens e serviços, indicam uma desaceleração.